segunda-feira, 6 de março de 2017

O magnata que doou fortuna de US$ 8 bilhões em segredo e ficou com 'quase nada'

A fortuna estimada em US$ 8 bilhões (R$ 25 bilhões) que transformou Charles Feeney em um dos homens mais ricos dos Estados Unidos não pertence mais a ele. 

O magnata doou o montante em segredo, e em vida, para instituições ao redor do mundo. "Não o fiz para provar coisa alguma, exceto que, com sorte, o mundo agora é um lugar melhor porque peguei o meu dinheiro e o dividi entre muitas pessoas", afirmou Feeney, em entrevista à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC. 

Quando questionado sobre a decisão de fazer as doações secretamente, afirmou que "não precisa explicar para todo mundo o que está fazendo". Entre as instituições agraciadas estão algumas na área de saúde pública e outras que fazem campanha pela paz. Além disso, cerca de U$S1 milhão foi usado em custos operacionais da empresa Atlantic Philantropies, um grupo de entidades criado pelo próprio Feeney, em 1982, para canalizar as doações. 

O valor mais recente foi uma doação de U$ 7 milhões (R$ 22 milhões), no fim do ano passado, para ajudar estudantes da Universidade de Cornell (EUA) envolvidos em trabalhos comunitários. 

Apartamento alugado 

Dessa forma, Feeney, hoje com 85 anos, terminou de distribuir a riqueza que acumulou como fundador de uma empresa pioneira de duty-free (ou free shop) - lojas especializadas em vender, sem encargos fiscais tradicionais, desde perfumes até bebidas alcoólicas e cigarros em aeroportos. Segundo Oechsli, depois das doações, o agora ex-magnata ficou com apenas uma pequena parcela do que ganhou: aluga um apartamento modesto em São Francisco, na Califórnia. 

Não tem mais imóveis ou bens luxuosos. Tudo o que guardou seriam "alguns poucos milhões" - menos de U$ 10 milhões (R$ 33 milhões) - para cobrir os custos de vida e cuidados médicos que ele e sua mulher, Helga, terão até a morte. E, apesar da mudança no padrão de vida e de consumo, Feeney, apontado como uma espécie de antítese do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está longe de demonstrar arrependimentos. "Viver e desfrutar da vida da maneira que eu fiz até agora já está bom. Estou feliz com isso, e minha esposa também", afirmou. 

Feeney confessa que a decisão de se desfazer da riqueza acumulada não foi consequência de um episódio em particular, mas de um processo pessoal, que incluiu leituras sobre filantropia e algumas reflexões. "Considerei as alternativas que tinha na minha vida e pensei que o melhor que poderia fazer era estender a mão e buscar as pessoas menos afortunadas", disse. 

Vida simples 

Muito antes de doar todo o dinheiro, Feeney era conhecido pelo estilo de vida mais simples, diferente da aura luxuosa que a empresa dele transmitia. 

Preferia comer em bares populares do que em restaurantes caros de Nova York e não viajava de avião na primeira classe. Usava um relógio que custava cerca de US$ 15 e carregava uma sacola plástica com os jornais que lia frequentemente. Por isso, nega que sinta falta dos tempos em que tinha uma imensa fortuna. "Não sinto falta, porque nunca fui apegado à riqueza material", disse. 

Questionado sobre o que lhe dá prazer depois de cumprir o grande objetivo de se livrar do dinheiro, ele responde. "Viver exatamente do modo que eu vivo, sabendo que através do trabalho da fundação fiz o bem a quem não esperava". "Isso foi uma espécie de recompensa", disse.
BBC

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