segunda-feira, 9 de maio de 2016

Lava Jato apura se ex-senador transformou igreja em lavanderia de dinheiro com aval de padre

Uma equipe de investigadores da Lava Jato vai fazer uma devassa nas contas da Paróquia de São Pedro, em Brasília, para descobrir como o padre Moacir Anastácio Carvalho gastou cada centavo de quase um milhão de reais recebidos das empreiteiras OAS, Andrade Gutierrez e Via Engenharia, em 2014. 

O Ministério Público suspeita que o ex-senador Gim Argello (PDT-DF), preso e denunciado na Lava Jato, e o ex-governador do Distrito Federal Agnelo Queiroz (PT) tenham transformado a Casa de Deus em lavandeira com o consentimento do padre para legalizar dinheiro de propina.

Ao prestar depoimento ao delgado federal Luciano Flores, padre Moacir apresentou três recibos e um extrato bancário. Pelos documentos, o religioso recebeu três repasses de empreiteiras em 2014. 

O primeiro, no dia 14 de abril, foi de 300 000 reais e veio da Via Engenharia. Segundo ele, a caridade foi obra de Agnelo Queiroz, que é investigado na Lava Jato justamente por carregar nas costas a suspeita de receber propina da empreiteira na construção do bilionário Estádio Mané Garrincha. 

A segunda doação ocorreu no dia 19 de maio no valor de 350 000 reais. Dessa vez o dinheiro veio da OAS e foi costurado por Gim Argello, que frequenta a paróquia do padre Moacir há mais de 10 anos. 

Duas semanas depois caiu na conta da igreja outros 300 000 reais, fruto da boa vontade da Andrade Gutierrez, cujo ex-presidente, Otávio Azevedo, está preso acusado de pagar propina na obra da usina nuclear Angra 3. 

Os investigadores trabalham com a hipótese de que o dinheiro depositado na conta da igreja de Brasília é parte da propina que Gim Argello recebeu para manter executivos de empreiteiras bem longe das comissões de inquérito que investigavam corrupção na Petrobras no Senado e na Câmara, há dois anos. 

Gim, Agnelo, o padre e as empreiteiras negam tudo, claro. "Os políticos disseram que iam conseguir dinheiro para a festa junto a empresários, mas não mencionaram quais empresas", disse o padre em depoimento. "Só tomei conhecimento que parte do dinheiro veio da OAS quando fui intimado", completou. 
Veja

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