Contrariamente ao que divulgaram nos últimos dias setores da mídia norte-rio-grandense ligados ao vice-governador Robinson Faria, presidente regional do PSD, atrapalhações burocráticas não respondem pela não publicação, pelo "Diário Oficial do Estado", da nova nomeação dele como secretário de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, cargos que havia deixado há uns quinze dias, desincompatibilizando-se legalmente para responder pela chefia do executivo durante viagem da governadora Rosalba Ciarlini aos Estados Unidos.
O fato é que Rosalba e o marido e principal conselheiro dela, agropecuarista e ex-deputado estadual Carlos Augusto Rosado, não mais querem devolver a pasta a Robinson. Desde o último fim de semana amigos comuns aos três exercem a mais complexa diplomacia possível à política do Rio Grande do Norte com o propósito de emprestarem a Robinson alguma sobrevida ao cargo.
Se uma edição especial do "Diário Oficial" veicular hoje a nomeação, os aliados persuadiram Carlos Augusto. Na manhã desta sexta-feira, 20, hoje, porém, diversos amigos comuns a ele e a Robinson consideravam favas contadas a perda da secretaria pelo Vice-governador. Nos últimos dias, enquanto aliados o defendiam junto a Rosalba, Robinson manteve distância do casal que manda no Estado. Viajou a São Paulo, anunciando uma agenda que o prenderia ao prefeito Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD, para não mostrar que saía de cena para que seus advogados a ocupassem.
Queimado junto ao casal governamental há meses, Robinson já estava na marca do pênalti antes de Rosalba viajar. Os mesmos intercessores de hoje observam que ele cometeu um erro quanto a pessoa quando declarou guerra ao senador José Agripino Maia, presidente nacional e regional do Dem, como resposta à pressão que esta agremiação exerceu, nacionalmente, contra o registro legal do PSD. Segundo dizem, tudo o que José Agripino declarou contra os interesses de Robinson na política potiguar traduzia principalmente o pensamento, cada vez mais solidificado, de Carlos Augusto e Rosalba.
Sem nada declarar contra o primeiro nome da sucessão estadual, o primeiro casal contrariou Robinson ostensivamente nas vésperas da viagem. Num momento em que Robinson esticou a corda contra José Agripino, Rosalba deixou de falar com Robinson. Para reatar o diálogo, este recorreu a seu primogênito, o deputado federal Fábio Faria (Dem), que chegou a conversar, sem sucesso, com Carlos Augusto. Na mesma linha, Rosalba suspendeu, sem dar satisfação a ninguém, a cerimônia em que entregaria o cargo a Robinson no auditório da Governadoria, cingindo o ato a mera formalidade em pleno hangar do aeroporto Augusto Severo, em pleno meio-dia de Parnamirim.
Robinson piorou em muito sua situação no exercício do cargo exatamente durante sua interinidade. Sabendo que Rosalba limpado as gavetas, sem deixar nada que necessitasse, em sua ausência, de qualquer ação do interino, Robinson montou uma pauta que terminou irritando a titular do cargo. O pior que lhe ocorreu foi agilizar em cinco dias providências que sua pasta vinha postergando havia vários meses, a implantação de equipamentos na penitenciária de Alcaçus, para a toque de caixa aparecer como executivo de resolutividade ao anunciar o êxito da empreitada, traduzindo-o na oferta de mais espaços para apenados.
Rosalba nunca entendeu porque Robinson não a consultou telefonicamente ou pela internet, sobre a encenação em vias de promover em Alcaçus, se já havia demonstrado que, quando queria, sabia encontrá-la em qualquer parte do mundo. Sem nenhuma participação no processo que levou a Assembléia Legislativa a aprovar, por unanimidade menos o voto do deputado estadual Fernando Mineiro (PT), a lei que autorizava Rosalba a contratar empréstimo de 540 milhões de reais com instituição internacional, Robinson a localizou em Washington, como se tivesse monitorado o processo, para que comemorassem a vitória. No dia seguinte, a exemplo do que fez em Alcaçus, sonegaria a Rosalba o privilégio de sancionar a lei do empréstimo, fazendo-o inopinadamente na sede do legislativo, em ato esvaziado pela ausência de vários deputados estaduais ligados a ele e à chefe efetiva do executivo.
Se antes de Rosalba embarcar alguns amigos comuns achavam que Robinson agiria melhor se entregasse a secretaria antes da viagem, ao longo da interinidade o mesmo time chegou à conclusão de que, protagonizando atos como estes, o vice-governador estava agravando a situação. Não sabiam se de caso pensado, apostando em agravar a crise para sair solenemente do barco governista, ou por inabilidade ou erro de avaliação.
A mobilização de amigos comuns aos quais ele recorreu na esperança de permanecer no posto mostra que não faltaram motivos para os que ainda não chegaram a alguma conclusão sobre se ele não sofreu de embriaguês da altura.
Por Roberto Guedes.