Um mês após conseguir a extinção completa de sua pena na Justiça do Rio, o ex-banqueiro Salvatore Alberto Cacciola, de 68 anos, começa discretamente a retomar uma parte da rotina que ficou para trás com o escândalo do Banco Marka, em 1999.
Em entrevista ao GLOBO por e-mail, a primeira exclusiva a um jornal há pelo menos quatro anos, Cacciola diz que tem propostas de emprego e que está se “adaptando à liberdade”.
“Tenho lido tudo que posso e avaliado as propostas de trabalho que têm aparecido no Brasil e na Itália” , afirma o ex-dono do Banco Marka. “(Quero) Voltar a fazer o que faço desde os 12 anos de idade, trabalhar”.
Segundo o ex-banqueiro, nada relacionado ao mercado financeiro.
Mesmo livre da pena de 13 anos de prisão, ele não pode atuar pelos próximos dez anos em atividades sob a área de fiscalização do Banco Central (BC), por condenação da própria autoridade monetária. Mas preferiu não detalhar quais seriam essas propostas de trabalho. “Como perdi o emprego no Fortyseven e a Europa está em crise, ainda não defini.”
O Fortyseven é um hotel, em Roma. Mais do que um funcionário, Cacciola tinha participação societária no hotel, mas não entrou em detalhes sobre o assunto. Seu filho, que comandava o hotel, mora novamente no Brasil. O Fortyseven tem 47 quartos e uma diária pode custar 400 a noite na suíte de luxo.
Cacciola afirma que quer recuperar sua “privacidade”.
Mesmo assim, o caso Marka invariavelmente volta à tona. Em abril, a Justiça Federal condenou Cacciola e outros envolvidos a uma multa de pelo menos R$ 6 bilhões. Foram condenados também a BM&FBovespa, o BB Investimentos e ex-diretores do Banco Central. Indagado se tem meios pagar sua parcela da multa, ele diz:
“Claro que não tenho e não pretendo fazer nada diferente do que estou fazendo: me defendendo.”
E acrescenta: “Se houve (prejuízo), com certeza não foi por causa do Banco Marka, mas por quem conduziu de forma desastrosa a flutuação do câmbio em janeiro de 1999.”
Os problemas de Cacciola com a Justiça começaram em 1999, quando o Marka, sediado no Rio, teve problemas na maxidesvalorização do real, em 1999. O banco fez apostas erradas no mercado de câmbio e precisou ser socorrido pelo Banco Central (BC), numa operação que causou prejuízo de R$ 1,5 bilhão aos cofres públicos, valor que considera também o resgate do banco FonteCindam.
O polêmico socorro envolveu denúncias de chantagem e informações privilegiadas, além de ter sido alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI).
O Globo