O pior problema político enfrentado nas últimas semanas pela governadora Rosalba Ciarlini ainda não chegou com letras próprias às manchetes dos jornais natalenses. Decerto acostumados a enxergar, enumerar e nominar todas as árvores de um conjunto sem vê-lo e muito menos tratá-lo como floresta, os repórteres e analistas políticos ainda não mostraram ao povo o que de pior poderia e está acontecendo à chefe do executivo estadual e a seu esposo e principal conselheiro, o agropecuarista e ex-deputado Carlos Augusto Rosado: o poder que o governo do Estado confere ao casal perdeu subitamente a força de atração que exerceu desde a eleição dela em outubro de 2.010.
Numa unidade federativa em que nas últimas décadas os líderes políticos embarcaram na canoa do fisiologismo, de repente três fatos negativos para o governo de Rosalba sintomatizam este abandono pelos aliados. Com diferença de poucos dias, ela ofereceu a dois partidos aliados que a haviam combatido em 2.010 e recentemente subiram as escadarias do Palácio Potengi duas secretarias de Estado, perfazendo um total de três confiadas a interinos, porque as agremiações simplesmente declinaram.
O detalhamento da situação sugere que também neste abandono Rosalba segue os passos que tropegamente a jornalista e artista Micarla de Souza, presidente regional do PV, consegue dar na prefeitura de Natal. Assim como Micarla, Rosalba amarga índice elevadíssimo de reprovação pelo cidadão comum. Assim como se recusaram a oferecer a Micarla nomes para comporem seu secretariado e até convidaram a sair amigos que nele se destacavam, líderes de partidos aliados a Rosalba começam a evitar a queimação do nome de aliados e liderados num governo que não proporciona a realização de aspirações políticas e mais empresta desgastes.
Esta é a pior situação a que um governante pode chegar, como ensinou em 1.990 o saudoso deputado federal Ulisses Guimarães, na época presidente da câmara federal e do diretório nacional do PMDB, ao impedir que o então senador Fernando Henrique Cardoso, a quem apreciava muito, aceitasse segurar na alça do caixão da administração do então presidente Fernando Collor de Mello, que o convidara para assumir o ministério das Relações Exteriores.
Ao chegar a situação semelhante, Micarla foi comparada na mídia natalense ao pau de lata, aquele em que ninguém, por razões óbvias, quer ficar pegando.
Quem ainda não cubou a amplitude da situação a que se condenou Rosalba deve relacionar alguns fatos que, aparentemente isolados, estão ligadíssimos entre si e têm como pano de fundo uma gritante falta de democratização do governo pela sua chefe e principalmente por Carlos Augusto, fertilizante de uma reprovação que queima como fogo de monturo entre líderes municipais ainda de alguma forma ligados ao Palácio Potengí.
Senão, vejamos: ao se deixar cooptar, no início do ano, o PR assumiu a secretaria de Justiça e Cidadania, por intermédio do advogado Fábio Hollanda, que durou pouquíssimo no cargo. Por ocasião da defenestração do causídico, Rosalba assegurou ao presidente regional do PR, deputado federal João Maia, a prerrogativa de indicar o novo titulara para a pasta, e o parlamentar não se animou a fazê-lo, a despeito de um leque considerável de opções entre amigos residentes em Natal.
Esta semana, sentindo-se pessoalmente desprestigiado, o engenheiro Ramzi Elali se exonerou da pasta do Turismo, levando o Rio Grande do Norte a se lembrar de que havia sido nomeado por indicação do ministro da Previdência Social, senador Garibaldi Alves Filho (PMDB), sem dúvida um dos aliados mais leais a Rosalba. Nesta quinta-feira, 29, ontem, assim que soube da defenestração do amigo, o deputado estadual Walter Alves, filho e liderado de Garibaldi Filho, procurou logo mostrar que os dois e por conseguinte o PMDB não indicaria o sucessor de Ramzi, com quem se solidarizou. Na manhã de hoje, durante entrevista a uma emissora natalense de rádio, o Ministro ratificou a posição do filho, sem conseguir nem desfazer a impressão de que sua única outra indicação para o primeiro escalão do estafe de Rosalba estaria também a caminho da renúncia ao cargo. Seria o professor Luiz Eduardo Carneiro Costa, que há tempos se queixa, falando em deixar o barco, porque Rosalba esvaziou sua pasta, a secretaria de Trabalho, Habitação e Assistência Social, em favor da inoperante secretaria da Agricultura, que a chefe do executivo confiou ao cunhado Betinho Rosado.
As duas recusas parlamentares remetem ao sucesso administrativo que tem sido a atuação do jovem advogado Rodrigo Fernandes, efetivamente sub-secretário respondendo interinamente pela pasta de Assuntos Fundiários e Apoio à Reforma Agrária desde que o antigo titular trocou esta pasta pela de Recursos Hídricos e Meio Ambiente. Rodrigo só tem conseguido mostrar seus méritos na torre de comando porque nenhum partido vinculado a Rosalba se interessou pela pasta.
O terceiro episódio, já mencionado na terceira parte da edição de hoje desta coluna, foi o desinteresse que ostensivamente o deputado federal Henrique Eduardo Alves, presidente regional do PMDB, demonstrou quanto à falta de tato que o governo do Estado demonstrou ao divulgar, esta semana, a reabertura do mercado russo à carne procedente do Rio Grande do Norte, uma exportação, aliás, ancestralmente pouco citada no noticiário econômico potiguar. A secretaria estadual da Agricultura omitiu olimpicamente o fato de esta reabertura ter sido pedida em Moscou pelo parlamentar potiguar e pelo vice-presidente da república, constitucionalista Michel Temer, durante visita que fizeram ao primeiro ministro Vladimir Putin.
Salientando que não é comum políticos que dão tudo por fatias do poder abrirem assim mão do que lhes chega às mãos, a gente termina desembarcando no refrão do saudoso Ataulfo: "laranja madura, na beira da estrada, ‘tá bichada, Zé, ou tem maribondo no pé".
Roberto Guedes
Nenhum comentário:
Postar um comentário