Representantes de diversos setores do agronegócio estão alarmados com o que consideram ser um viés anti-China espalhado no governo Bolsonaro. "Estamos comprando briga com nosso maior parceiro comercial e nem sabemos por que, só para imitar o [presidente americano, Donald] Trump", diz Pedro de Camargo Neto, vice-presidente da Sociedade Rural Brasileira e ex-secretário de comercialização e produção do Ministério da Agricultura.
Representantes de diferentes setores do agronegócio ouvidos pela reportagem relataram que a mensagem que têm recebido no governo é de que é preciso reduzir a "sino-dependência", diversificar mercados e diminuir a exposição à China.
Setores como o de carnes, suco de laranja, algodão e soja, que fazem grandes exportações para a China ou têm planos de expandir, manifestaram preocupação.
Em encontro recente na sede da Frente Parlamentar da Agropecuária com diversas entidades do setor, representantes do Ministério da Agricultura tranquilizaram os produtores, afirmando que não haverá rompimento com a China. Mas os desestimularam de aumentar exportações para o país, encorajando-os a buscar mercados em algum dos 119 países com representações brasileiras.
O discurso do ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo (foto), para alunos do Instituto Rio Branco nesta segunda-feira (11) foi a gota d'água.
O chanceler afirmou que o Brasil não vai vender sua alma para exportar minério de ferro e soja.
A China é a maior compradora de soja e minério de ferro do Brasil. "Nós queremos vender soja e minério de ferro, mas não vamos vender nossa alma. Querem reduzir nossa política externa simplesmente a uma questão comercial, isso não vai acontecer."
Segundo representantes do setor, a eleição de Bolsonaro havia sido comemorada como o fim da ideologização da política externa e comercial. Mas, agora, os produtores estariam muito preocupados porque veem profunda ideologização -no lado oposto.
NM
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