Publicado pelo colega Paulinho Filho, no seu blog, reproduzimos neste espaço a homenagem que o jornalista Rubens Lemos Filho prestou ao médico Edimar Medeiros.
Crônica esmerada como é costumeiro do jornalista, ele agradece aos cuidados que sua avó recebeu de Edimar e equipe.
Vamos a ela:
"Obrigado, doutor
Rubéns Lemos Filho
Jornalista
O título acima é cópia despudorada de uma das piores séries exibidas pela Rede Globo há exatos 30 anos, em 1981, com Francisco Cuoco no papel-título. Brega é apelido. Suportar Francisco Cuoco somente as solteironas. Foi ele quem inventou o canastrão brasileiro. Só teve uma boa atuação em Pecado Capital, versão original, napele de um malandro que termina assassinado por ser obcecado por dinheiro. Se todostivessem o fim dele, o personagem Carlão, o Brasil seria melhor.
Arrebato sem a menor cerimônia o título da série que teve o magistral Ferreira Gullar entre os seus redatores, para dizer que a medicina eletrônica pode ter os melhores equipamentos, mas o melhor da medicina é o ser humano. E que ela não é,assim como o Direito, uma ciência de regras e códigos, é, sim, uma prova de que osentimento verdadeiro cura.
Tenho me relacionado com meus poucos leitores na mais absoluta franquezadesde que comecei aqui no Jornal de Hoje, há quase nove meses, uma gestação obstetra. Assuntos pessoais não devem ser levados a público nem a jornal, porquevocê consume um produto que consome neurônios e o quer bem feito. Dane-se o que passa pela vida de Rubens Lemos Filho.
Fui desafiado no pior ano de minha passagem pela vida. Desejo a 2010(salvo raras exceções), o pior fogo dos infernos, a cutilada da faca mais atroz, o tiro maiscerteiro disparado pelo Bope, o batalhão do qual sou fã, amigo e torcedor, para desespero dos humanistas que defendem direitos de facínoras.
O desano (neologismo inaugurado agora) que passou, me tirou amigos, me fezpercorrer cemitérios com a intimidade dos coveiros. E justamente no seu debater dedesespero, resolveu me causar a pior das dores.
Tenho uma avó, Maria do Carmo Carneiro de Melo, de 91 anos, que nasceu, claro, em 1919. É do tempo dos bondes, da Praça Pio Décimo, e detentora da maiordoçura que o meu coração cansado e calejado conheceu.
No dia 24 de dezembro, Natal dos cristãos fervoroso feito ela, minha avó
fraturou o fêmur. Sofreu o que não merece porque sua vida foi um doce martírio. Servidora letra “D” estadual, do antigo Setor de Pagamento, nunca teve função gratificada. Entrou no Governo Dinarte, passou pelo de Aluísio Alves, seu ídolo, Monsenhor Walfredo Gurgel, Cortez Pereira, Tarcísio e Lavoisier Maia e aposentou-se no primeiro mandato de José Agripino. Todos lhe queriam bem. Dona Carminha, para os (poucos) remanescentes.
Ganhava pouco e dedicava muito amor. Um doce. Ver minha avó, que foi meu
abrigo, refúgio de carinho, imobilizada numa cama, tomando sangue, gemendo e pedindo a Deus que acalmasse seu flagelo, me faz chorar de impotência e revolta.
Encontrei alento em amigos que o hospital transforma em corrente invisível de solidariedade, como o professor Geraldo Queiróz, coração gigante, alma generosa ecoragem cívica, pois deputado pelo MDB em, 1966, quando corriam os cassetetes.
Encontrei afeto em Genibaldo Barros, que foi reitor da UFRN , vice-governador do Estado e, se quisesse, poderia ficar em sua casa sossegadamente, lendo e contando histórias. Mas esteve fazendo do seu juramento, cordão de apoio, na simplicidade com que vai ao banco e tira o seu extrato, com que vai à banca e compra o seu jornal. É da geração dos bons de sangue. Modéstia mesmo que não queira.
O que eu não posso, jamais esquecer, é de agradecer, de coração e alma abertos, ao médico Edmar Medeiros Dantas, o Doutor Edmar de Jardim do Seridó. Conterrâneo do meu exímio Manoel de Brito. Foi ele quem atendeu minha avó à crucial hora, com ela estabeleceu uma afinidade de carinho, de bem-querer à primeira vista. Edmar é sertanejo e sertanejo chama no brio a lâmina da emoção.
Edmar Dantas, o médico, me oxigenou de esperanças, me estimulou com força e generosidade, palavras que não são escritas no jornalismo moderno e impessoal.
Ao Doutor Edmar Dantas, filho de seu Esmerino e Dona Luzia, digo muito obrigado. A ele, e à sua equipe. A ele pelo que é. Pelo que continuará sendo. Por terfeito dele também o tesouro da minha vida. Diz Edmar que no diploma está escrito ortopedista. O certo é humanista, especialidade que faculdade nenhuma ensina.
PS. Na hora em que adianto o texto para voltar ao hospital, minha avó segue lutando pela vida. E eu a querendo mais ainda."
Crônica publicada na Coluna Passe Livre, do jornalista Rubens Lemos Filho, Jornal de Hoje, em 04 de janeiro de 2011.