O papa Francisco disse ontem, por meio do monsenhor Dario Viganò, diretor do Centro Televisivo do Vaticano, que seus telefonemas "não são notícia", em resposta a reportagem do jornal americano "The New York Times" publicada nesta semana.
"Sempre fiz isso, inclusive quando vivia em Buenos Aires. Recebia um bilhete, uma carta de um padre em dificuldades, de uma família ou de um presidiário, e respondia", afirmou Francisco durante encontro com Viganò, na sexta.
"Para mim, é muito mais simples telefonar, informar-me do problema e sugerir solução, se houver. Telefono para alguns e escrevo para outros", acrescentou o papa. Em tom de brincadeira, disse ainda: "Menos mau que eles [jornalistas] não sabem de todos os telefonemas que faço".
Segundo a reportagem do "NYT", Francisco enerva o Vaticano e delicia os fiéis ao ligar espontaneamente para as pessoas, o que lhe valeu o apelido de "papa telefônico".
No começo do mês, o papa ligou para confortar uma mulher italiana grávida cujo namorado, casado, a havia pressionado para que fizesse um aborto.
A mulher, que é divorciada e será mãe solteira, escreveu ao papa, temendo que estivesse violando as normas da igreja.
Por não saber o endereço, ela escreveu no envelope: "Santo padre papa Francisco, Vaticano, Roma".
O papa se ofereceu para oficiar o batizado do bebê quando ele nascer, no ano que vem, segundo o jornal "La Stampa", de Turim.
Em agosto, Francisco ligou para uma mulher na Argentina que fora estuprada por um policial de sua cidade. O papa disse a ela que não estava sozinha e que deveria ter fé na Justiça, de acordo com uma reportagem da TV argentina retransmitida na Itália.
Em 7 de agosto, Michele Ferri, de Pesaro, Itália, atendeu o telefone e ficou atônito ao ouvir: "Alô, Michele, aqui é o papa Francisco". Ferri disse em entrevista que achou que fosse um trote.
"Mas depois ele falou da carta que eu tinha escrito, uma carta sobre a qual eu não havia contado a ninguém, nem minha mãe ou minha mulher", disse Ferri. "E eu soube que era mesmo ele."
Ele havia escrito ao papa, contou, depois de "uma série de tragédias na família", mais recentemente a morte de seu irmão, assassinado no assalto a um posto de gasolina no começo de junho. "O papa disse que a carta o havia feito chorar", contou Ferri.
O telefonema de dez minutos "me ofereceu consolo, para enfrentar melhor a vida sem meu irmão", disse Ferri. "A dor continua, é claro, mas foi uma grande emoção ouvir a voz dele". Mais tarde em agosto, contou Ferri, o papa também ligou para sua mãe.
Folha