Dono de casa de jogos de azar em São Paulo e filho de comerciantes residentes e estabelecidos em Natal, é potiguar e conhecido nas rodas da alta sociedade natalense como "Rochinha" o jogador de baralho que há cerca de vinte dias ganhou 1,5 milhão de reais durante uma noitada em apartamento situado na orla marítima desta capital. A divulgação deste valor por integrantes da crônica social de Natal vinha despertando desde então muita curiosidade, sem que os periodistas se empenhassem em dar nomes aos bois.
Parceiro de uma loja que os pais mantém num apart-hotel situado em Petrópolis, na zona leste de Natal, Rochinha bamburrou há pouco tempo em cassinos de Las Vegas, nos Estados Unidos, através de uma jogada altamente arriscada, e ao voltar para o Brasil transferiu seu domicílio de Natal para São Paulo. Logo se enturmou com jogadores que arriscam fortunas numa noite e criou condições para montar seu estabelecimento, situado num dos bairros de maior custo de vida da cidade. Em decorrência da fama que conquistou, de tempos em tempos é desafiado para partidas como a que disputou no início deste mês em Natal.
250 MIL PARA COMEÇAR
Vindo frequentemente a esta capital, para rever parentes e amigos e principalmente para jogar, Rochinha foi desafiado numa dessas viagens pelo jogador que depenaria nessa noite de milhões. As informações sobre o evento atribuem este papel ao empresário Alex Sandro Ferreira de Melo, mais conhecido em Natal como "Alex Padang", velho freqüentador de mesas cobertas por panos verdes.
Proprietário de bandas de forró moderno e de um helicóptero que costuma fazer pousar em campos de futebol onde joga o América Futebol Clube desta capital, para só então pisar na praça de esportes para assistir as partidas, "Padang" desponta desde a semana passada como principal e a esta altura provavelmente único candidato à presidência do América.
Prepararam-se e então se reuniram para a peleja, que foi realizada no apartamento natalense do deputado federal Fábio Faria (PSD), que joga pôrquer de valor nas alturas em Natal, em Brasília, onde exerce seu mandato e tem procurado agir em defesa do esporte e no combate a drogas, e em São Paulo, onde costuma passar finais de semana e participa de carteados no estabelecimento de Rochinha. Cada um entrou com um cacife de 250 mil reais, conforme testemunhas.
TEXAS POQUER
Contando com um amigo como "crupier", lançador de cartas, "Padang" e Rochinha jogaram uma noite inteira "de testa", ou seja, sem outros disputantes, sempre na modalidade de Texas Poquer. Cada um recebe duas cartas e o crupier coloca na mesa mais cinco para cada um, todas viradas para baixo. Antes de conhecerem as duas cartas vestibulares, os dois começam as rodadas de aposta com escuros muito altos. Depois de conhecê-las, voltam a apostar sem limite.
Conforme testemunhas, um dos jogadores chegou logo cedo ao apartamento de Fábio, abriu uma mala, comprovando dispor na hora de mais de 250 mil reais, e ficou telefonando para o outro, a fim de atraí-lo para a partida agendada. Ao chegar ao local, "Padang", assim conhecido numa alusão a seu primeiro negócio, um jornal mensal voltado para jovens, que lançou na época do início do Carnatal, o carnaval fora de época de Natal, já estava com mais de litro de uísque na cabeça, e por isto teria não apenas perdido mas, principalmente, elevado estratosfericamente seu prejuízo.
BANQUEIRO DE JOGO
Um amigo comum aos dois, mencionado nas rodas de praticantes de jogos de cartas como "Carlos Perú", teria exercido o papel de crupier até altas horas. Dias depois, disse que deixou o apartamento quando "Padang" já perdia seiscentos mil reais. Ao dinheiro vivo que transferiu pouco a pouco ao competidor, ele havia acrescentado cheques de altas cifras.
Depois que esgotou o talonário, "Padang" passou a botar em jogo um automóvel e alguns imóveis. No fim das contas, teria perdido um utilitário esportivo 4x4, um apartamento em Ponta Negra e dois terrenos em Natal. Ao oferecê-los, ele procurava ampliar ao máximo o valor de venda de cada imóvel, de sorte que, na visão de amigos comuns, terminou perdendo menos do que chegou a ser divulgado naqueles dias por um cronista social natalense.
Sem jogar, na condição de banqueiro do jogo, Fábio ganhou 10% do valor das apostas, o que teria somado até 150 mil reais, pelos cálculos de outros apreciadores natalenses de pôquer. Na manhã seguinte, depois de designar um procurador para transferir para seu nome os bens adquiridos no pano verde, Rochinha viajou para São Paulo.
por Roberto Guedes.