Em abril, o Itaú Unibanco anunciou a doação de R$ 1 bilhão para o combate do novo coronavírus. Trata-se da maior doação já feita para uma única causa no Brasil.
O montante doado pela instituição — cujo lucro líquido foi de R$ 28,4 bilhões, em 2019 — representa quase um quinto dos R$ 5,5 bilhões doados como resposta à Covid-19 até o início de junho, de acordo com o Monitor das Doações, da Associação Brasileira de Captadores de Recurso (ABCR).
O valor total arrecadado também representa uma mobilização inédita na história recente do país. A filantropia foi impulsionada, entre outros fatores, pela aprovação de projetos estaduais os quais tornaram as doações menos burocráticas.
O setor financeiro foi o maior responsável pelas contribuições, concentrando 34% das doações, sendo seguido pelos setores de alimentos e bebidas, com 15%, e mineração, com 11%. As empresas que mais doaram para a causa, além do Itaú Unibanco, foram Vale, Cogna Educação, Ambev e Rede D’Or.
Mas não são apenas as grandes empresas que se movimentam durante a crise. Através de lives de artistas, projetos de financiamento coletivo e movimentações locais, pessoas físicas também exercem sua solidariedade, como é comum nas grandes tragédias — a exemplo do rompimento da barragem de Mariana, ou o desabamento da ocupação no centro de São Paulo.
A preocupação em ajudar somente nesses momentos ressalta uma característica questionável da cultura de doação do país: a inconstância.
“O grande desafio é fazer com que as pessoas e empresas percebam que não adianta fazer doação só durante a tragédia, ela tem que ser contínua”, diz Marcio Zeppelini, presidente da Rede Filantropia — organização que promove uma campanha para entender o comportamento de quem doa durante a pandemia.
“O brasileiro é um povo solidário, mas falta a cultura da periodicidade. É muito melhor doar R$ 1.000 todo mês do que R$ 10.000 de uma vez e nunca mais. Isso ajuda a organização a ter um planejamento”, explica.
O levantamento “Um Retrato da Doação no Brasil 2019”, divulgado pelo Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (Idis), mostrou que 7 em cada 10 brasileiros fizeram pelo menos uma doação entre agosto de 2017 e julho de 2018, o equivalente a 70% dos entrevistados.
Quando perguntados sobre doações realizadas nas últimas quatro semanas, o índice cai para 40%, revelando a inconstância.