Recorremos ao brilho dos recortes musicais sem ofuscar o talento do poeta. Entre inúmeras e originais canções, Águas de Março, é indescritível em sua melodia, permanecendo na vitrine das paradas de todos os tempos. Soa aos nossos ouvidos, sempre de novo, como “um mistério profundo”. É grandiosa e grande, inquietante. Parte dessa grandiosidade insere-se no arrebatamento de nossos padrões usuais de pensamento, nos conduzindo às impressões de pensamento, a visibilidade do “lugar” por excelência do mistério.
São as “Águas de Maio” que farão o nosso maior patrimônio o “GARGALHEIRA” transbordar, é um “mistério da natureza”. Já são mais de meia hora de chuva. O cheiro da chuva, a terra molhada e as noites frias, aliás, são antídotos essenciais para poetas de primeira viagem.
Fossem outros os tempos, sem datas marcadas, poderia dizer poeticamente que com as “Águas de Maio” o nosso rio Acauã vai lavar a ponte. Certamente contaria vantagens de ter um rio ao alcance do olhar, caminharia por suas margens no fim das tardes e tudo seria mais bonito em nossas vidas.
Secular, o açude Gargalheira, milenar o rio Acauã. Vemos todos os dias. Aprendemos que nesse tempo de boas chuvas as belezas secretas de seu leito; emolduram novos caminhos com o passar dos anos. Reconheçamos em sua profundidade. Sabemos de suas águas barrentas e revoltas dos períodos difíceis, mas também entendemos a placidez das águas de um verde mais escuro que já conhecemos em épocas não tão distantes, de um céu refletido e da vida que em suas entranhas sempre se renova.
Ao cruzar a ponte com calma para o “Outro lado do rio”, hoje bairro Petrópolis. Podemos contemplar seu percurso. O rio também nos saúda. Somos antigos e bons velhos amigos. Poucos lhe dão o devido valor. Fosse outro lugar, sem dúvidas suas margens seriam mais bem cuidadas.
Mas, despretensiosamente a cidade – ou o tempo – levou tudo isso. E assim esse nosso rio idealizado hoje só vive na poesia, não pertence mais a esta realidade. De caminho, virou obstáculo. A cada temporada de inverno sua enchente se transforma num verdadeiro espetáculo da natureza.
Não fosse o tamanho, com certeza já teria sido aterrado para a construção de uma imensa avenida. Enfim, o rio permanece vivo na memória viva de nossa gente, nas lembranças de um tempo que não se apaga e na saudade de muitos que um dia se surpreendeu, olhando a vida passar no espelho das “Águas de Maio”. É o nosso Gargalheira, um encantamento mágico cheio de mistérios.
Sérgio Enilton.
A expressividade linguística do acariense é como o sorriso, universal. Todo o todo mundo entende.
ResponderExcluirParabéns pelo belíssimo texto! Um verdadeiro poema ao místico Gargalheiras!
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