segunda-feira, 25 de maio de 2020

Bolsonaro interferiu no Iphan para favorecer dono da Havan, diz ex-chefe do órgão

A reunião ministerial de 22 de abril, liberada para divulgação pelo STF por conter supostas provas de que Jair Bolsonaro tentou mexer no comando da Polícia Federal, revelou interferência do presidente em outro órgão público, o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) 

O chefe do Executivo afirmou ter recebido uma queixa de Luciano Hang, dono da Havan, a respeito do embargo de uma obra do empresário no Rio Grande do Sul. 

"O Iphan, não é? Tá lá vinculado à Cultura. Eu fiz a cagada em escolher... não escolher uma, uma pessoa que tivesse o... também um outro perfil. É uma excelente pessoa que tá lá, tá? Mas tinha que ter um outro perfil também. O Iphan para qualquer obra do Brasil, como para a do Luciano Hang. Enquanto tá lá um cocô petrificado de índio, para a obra, pô! Para a obra. O que tem que fazer? Alguém do Iphan que resolva o assunto, né? E assim nós temos que proceder", declarou o presidente. 

Ao jornal ‘Folha de S.Paulo’, a ex-chefe do Iphan, Kátia Bogéa, disse ter sido demitida por Bolsonaro após reclamações de Hang e do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente. 

Segundo Kátia, a paralisação da obra ocorreu porque a empresa contratada por Hang reportou ao Iphan um achado arqueológico: “Ele criou esse escarcéu porque nem a mais simples das obrigações eles querem fazer. Estávamos ali para cumprir a Constituição. O que queriam é que não observássemos a lei”. 

A ex-presidente, que estava no órgão desde 2016 e foi exonerada em dezembro de 2019, comparou o caso ao de Geddel Vieira Lima, ex-ministro de Michel Temer, que tentou erguer um edifício em área tombada em Salvador. 

Ele foi demitido e condenado por improbidade administrativa. Flávio Bolsonaro ouviu reclamações de construtores de Salvador a respeito de uma portaria baixada pelo Iphan no fim de novembro de 2019, limitando e criando regras para obras na Barra, mesmo bairro de interesse de Geddel. 

Em 11 de maio, o governo nomeou para a presidência do órgão Larissa Peixoto, uma amiga da família Bolsonaro e servidora do Ministério do Turismo há 11 anos. 

“Ele vem com esse discurso mentiroso de que teria que ter perfil técnico para ocupar cargos no governo. Tudo mentira. É triste ver o Iphan invadido por gente sem formação”, desabafou Bogéa.

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