terça-feira, 9 de outubro de 2018

Paulo Guedes, um economista liberal para um presidente de extrema direita

Poucas coisas definem melhor o pensamento e as propostas de Paulo Guedes, guru econômico de Jair Bolsonaro e, muito provavelmente, próximo ministro da Fazenda - se o candidato de extrema direita for eleito presidente - como sua visão do Estado: quanto menor, melhor. 

É que este ex-professor, fundador de centros de estudo econômico, de bancos e portfólios de investimentos, é um liberal purista. 

Formado no Brasil, mas moldado no berço do liberalismo econômico moderno, a Universidade de Chicago, onde fez seu mestrado e doutorado, este homem de 69 anos sempre foi um ativo promotor de sua crença: abertura econômica, redução de impostos e simplificação da estrutura fiscal. 

Suas ideias e promessas explicam a razão pela qual a Bolsa de São Paulo festejou, com alta de até 6% em sua abertura nesta segunda-feira (8), a vitória de Bolsonaro no primeiro turno (46% dos votos), que o deixa em posição confortável para enfrentar Fernando Haddad (28%) em 28 de outubro. 

Talvez por isso a sua aproximação com Jair Bolsonaro, de extrema-direita e protecionista, tenha chamado a atenção. Inclusive chocou os que entendem que o protecionismo histórico brasileiro não entra no dicionário de nenhum liberal ortodoxo como Paulo Guedes. 

E vice-versa. Bolsonaro solucionou a questão com uma resposta simples: "Na verdade, não entendo de economia", confessou ao jornal O Globo. "A última que disse que entendia (de economia) foi Dilma (Rousseff) e afundou o país", declarou Paulo Guedes durante uma conferência em janeiro, segundo relatou o jornal Folha de S.Paulo. 

'Superministro' privatizador 

Guedes rapidamente surgiu como um colaborador de peso em um eventual gabinete do Partido Social Liberal (PSL) e Bolsonaro. 

Um "superministro" que deveria unir sob o seu comando as atuais pastas de Fazenda, Indústria e Comércio, Planejamento e a secretaria encarregada de Associações e Investimentos do Estado. 

Com um semblante sério e uma expressão que beira a preocupação, Paulo Guedes é o homem a quem Bolsonaro espera entregar a difícil tarefa de tirar o Brasil de dois anos de recessões e outros dois de baixo crescimento. 

Seus desafios: diminuir o déficit fiscal e reverter a trajetória de crescimento da dívida pública, que passou de 58% do PIB em 2013 para 77,3% do PIB atualmente, e que, sem reformas, poderia chegar a 140% em 2030, segundo o Banco Mundial. 

Guedes traz uma receita de seu manual de Chicago debaixo do braço: "Reduzir a dívida pública em 20% mediante privatizações, concessões" e a venda de propriedades estatais. Um projeto delicado em um país onde empresas emblemáticas, como a Petrobras, os Correios e a Eletrobras, são estatais. 

Paulo Guedes também é partidário de uma transição do atual sistema previdenciário para um regime de capitalização ou cotizações individuais. 

Um modelo similar ao do Chile, onde o assessor de Bolsonaro atuou como professor universitário nos anos 1980, durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1989). Mas a convivência entre Guedes e Bolsonaro já teve algumas desavenças. 

Em setembro, o assessor deixou os empresários de cabelo em pé ao dizer que poderia ressuscitar um imposto às transações financeiras (CMPF), excetuando as da Bolsa, em substituição a cinco taxas. Bolsonaro teve que intervir para apagar o incêndio. "O presidente serei eu. Tratei esse assunto com ele. Ele falou que foi um ato falho. Ele quer diminuir a quantidade de impostos", explicou esta semana em uma entrevista com uma rádio de Pernambuco. 

E insistiu: "Teremos um ministro, sim, mas, acima dele, tem um comandante e esse comandante chama-se Jair Bolsonaro", lançou.
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