Em 2002, o ex-atacante italiano Paolo Rossi lançou em seu país a autobiografia "Ho Fatto Piangere il Brasile". Em português, "Eu Fiz o Brasil Chorar".
O título do livro –nunca lançado no Brasil– não é um exagero retórico.
Rossi foi o autor dos três gols da Itália na vitória por 3 a 2 sobre a equipe brasileira na Copa de 1982, na Espanha.Sua extraordinária performance no estádio de Sarriá, em Barcelona, tirou do Mundial uma das seleções brasileiras mais festejadas de todos os tempos, com Zico, Sócrates, Falcão e cia.
Segundo o italiano, os atletas do Brasil pecaram por presunção. "E eu aproveitei."
Se fosse brasileiro, diz, também teria chorado naquele dia 5 de julho de 1982.
Até aquele momento, o time comandado por Telê Santana encantava com um futebol vistoso e havia vencido os seus quatro jogos.
Já a Itália tinha empatado três vezes e ganhado apenas uma.
O time de Rossi seguiu em frente no torneio e acabou campeão em uma final disputada contra a Alemanha Ocidental (3 a 1).
Mas ele, como poucos, sabe dos riscos que os favoritos costumam correr. Será necessária à seleção de Felipão, alerta, "muita atenção com a Alemanha, a Argentina e a Itália".
Folha- No livro, o senhor conta que em um jogo de masters no Brasil, em 1989, não podia se aproximar da linha lateral porque choviam cascas de bananas, amendoim e moedas. Acredita que na próxima vez que vier ao Brasil será mais bem recebido?
Rossi - Eu estive em São Paulo em junho do ano passado para filmar um comercial [para uma marca de cartão de crédito] e o acolhimento dos brasileiros foi fantástico.
Tem uma pitadinha de ressentimento contra mim, mas também tem muita estima e cordialidade.
O povo brasileiro é sinônimo de correção e gentileza.
O senhor fez o Brasil chorar naquele dia. Teria chorado se fosse um torcedor brasileiro em 1982?
Sim. Naquele dia, os jogadores brasileiros pecaram por presunção, tinham muita segurança. E nós, ou melhor, eu aproveitei.
Em cada mínimo erro dos defensores, eu estava sempre no lugar certo, pronto para atacar e afundar o navio de guerra brasileiro. Nunca como naquela partida, eu me senti tão particularmente inspirado.
Como a sua vida mudou depois da Copa de 1982?
Depois do Mundial da Espanha, mudou totalmente. Não havia um lugar no mundo onde eu não era reconhecido, do Japão ao Círculo Polar Ártico.
Eu havia me tornado um dos homens mais populares do mundo.
O senhor foi a grande surpresa na Copa de 1982.
Qual jogador italiano pode ocupar esse papel na Copa de 2014?
Sem dúvida, fui a grande surpresa, mesmo que, quatro anos antes, no Mundial da Argentina, eu já tivesse sido um dos principais responsáveis pelo quarto lugar da Itália.
Na próxima Copa, eu apontaria o atacante Mario Balotelli. Se ele amadurecer um pouco, poderá ser um protagonista absoluto.
Qual a sua avaliação da preparação do Brasil para a Copa?
O país faz grande esforço econômico para preparar da melhor forma o Mundial. Parece-me, considerando a última inspeção da Fifa, que a situação geral está em linha com o programa.
Os estádios estão quase todos prontos, e a organização tem se empenhado ao máximo. Estou otimista e aconselho os torcedores italianos a irem ao Brasil.
O que pensa sobre a seleção brasileira? Neymar pode ser considerado hoje um dos melhores do mundo?
O Brasil é, sem dúvida, o favorito ao título, tem grandes atletas e um treinador vencedor com muita experiência, como é Scolari.
Mas deverá ter muita atenção com Alemanha, Argentina e Itália.
Neymar será uma das indiscutíveis estrelas do Mundial. É um atacante formidável e um grande finalizador.
A última temporada de Neymar com o Barcelona não trouxe outra coisa ao jogador que não seja o completo amadurecimento.
Folha