sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

O SAX RURAL DE URBANO MEDEIROS

Celebrado como um dos maiores saxofonistas da atualidade, Urbano Medeiros vive com sua família na bucólica Pará de Minas, cidade com cheiro de terra e de ruralidade. 

Aliás, acho mesmo que o seu nome encerra uma grande contradição: de urbano, ele só tem o nome. Um dia sugeri que ele acrescentasse o Rural. 

Algo como URBANO MEDEIROS RURAL. Eu sei que ficaria risível, mas, pelo menos, não seria tão contraditório, posto haver optado por viver sempre no interior do Brasil: de São João do Sabugy (RN) a São Gabriel da cachoeira (AM), com passagens por Campos do Jordão (SP), Paracatu (MG) e tantas outras cidades. 

Ele é tão urbano e igualmente tão rural. Essa ruralidade aproxima Urbano de pessoas como Adélia Prado e Elomar, que escolheram a vida tranqüila do interior não somente para morar, mas para, principalmente, a partir dela, produzirem uma obra igualmente monumental. 

Urbano optou, também, por um trabalho voltado para doentes depressivos, viciados, terminais... Sai de casa em casa tocando sax, pondo em prática o seu sacerdócio. 

Um sacerdócio na acepção mais profunda do termo. Faz um trabalho grandioso. Sem holofotes. Sem câmeras. Sem alardes. 

Ser um dos melhores saxofonistas do mundo não o torna orgulhoso. Pelo contrário, deixa-o "o menos de todos". Sua música não se enquadra em nenhum esquema, em nenhuma tendência, muito embora seja perceptível uma forte influência jazzística e armorial. 

Faz a música do coração. Hesicasta. Vez por outra vemo-lo todo vestido de preto, qual monge saído do legendário Monte Athos, a República Monástica do Oriente. 

A música do Santo Efrém Sírio é-lhe tão familiar quanto a do potiguar Felinto Dantas, o músico agricultor que tem sua obra executada na Capela Sixtina, no Vaticano. Tem cheiro de terra. Lembra o canto dos pássaros; o vento que uiva na copa das árvores ou nas montanhas de Minas; o tilintar dos chocalhos. São sons extraídos da natureza, primeiro livro escrito pelo Criador. 

O som que flui do seu saxofone é brisa suave. Sua música santifica o mundo. Sacraliza-o. Mora em Pará de Minas, mas poderia ser em Ipueira (RN), Buritis (MG), Parintins (AM), perto da Casa Velha da Ponte, em Goiás (GO)... Poderia ser aqui, ou aí. Não importa. 

Onde houver um cheiro de terra, de natureza, aí estará sua música, sua inspiração. Vive correndo mundo, levando a todos a sua arte. 

Argentina. Itália, incluindo a Sardenha. França. Portugal. Inglaterra. Suiça .... é ouvido na Lituânia. Na Ucrânia. Na Rússia. Em Israel. Na Síria. No Líbano. 

Suas gravações viajam pelos quatro cantos do mundo. Quem o ouve logo viaja junto com ele. Mas suas raízes estão sempre presentes. 

Mas não são raízes cultivadas no alto dos edifícios. São raízes crescidas às margens do rio Sabugy, na encosta da Serra do Mulungu. 

Raízes caatingueiras, sertanejas. Urbano Medeiros rural. O místico. O semita. O pai de Beth, de Paulo Misael e de Júlio. O descendente de Marrano misturado com Mouro. O viageiro. Um filho de Abraão apenas. 

Tarzan Leão de Sousa 
Da Academia de Letras do Noroeste de Minas
Secretário de Cultura de Paracatu, MG

Nenhum comentário:

Postar um comentário