O lutador Anderson Silva está sorridente no processo de recuperação da grave lesão na perna esquerda. Ele fraturou a canela no fim do ano passado em luta contra Chris Weidman, no UFC.
Não recuperou o cinturão dos médios e viu seu futuro no octógono em risco. Suportou as dores, voltou a treinar e garante que vai fazer mais seis ou sete lutas antes de se aposentar.
Nesta entrevista exclusiva, em evento de sua patrocinadora Duracell, ele fala sobre o processo de recuperação e suas perspectivas na carreira.
Na última quarta-feira, jantou com Ronaldo Fenômeno, espécie de guru, e ouviu palavras de apoio do amigo.
Também está se enveredando pelo mundo das artes cênicas. Na próxima semana, o atleta fará uma imersão em inglês para poder atuar em um filme com Anthony Hopkins.
ESTADÃO - Em algum momento você cogitou não voltar a lutar?
ANDERSON SILVA - Não, de jeito nenhum. Se caiu, tem de cair para cima. Eu estou bem, o que aconteceu foi um acidente de trabalho. Estou feliz, sem dor. Mas fiquei um mês com dor, todos os dias. Era todo tipo imaginável. Achava que era acostumado a lidar com a dor, mas não. Agora já passei desse estágio e sei que suporto. Mas não desejo isso para ninguém.
ESTADÃO - Qual é a opinião da sua família sobre isso?
ANDERSON SILVA - Na verdade ninguém quer que eu lute de novo. Eu estive com a minha mãe, com minha irmã e com meu tio, que é meu pai de criação, essa semana, no Rio, e eles pediram para que eu não voltasse a lutar. Mas é um negócio muito pessoal, faço isso desde os 8 anos de idade e foi a primeira vez que me machuquei lutando. Nunca tinha tido um arranhão. É acidente de trabalho, já vi acontecer várias vezes em treino, na academia, e você nunca acha que vai acontecer com você. Mas aconteceu.
ESTADÃO - Quem tem sido importante nessa fase de recuperação?
ANDERSON SILVA - Eu acho que principalmente o meu médico, o doutor Márcio Tannure. Ele esteve comigo o tempo todo. Meu preparador físico, Rogério Camões, também esteve junto. E minha família. Todos eles foram fundamentais para que eu pudesse me recuperar bem.
ESTADÃO - Quantas lutas você ainda pretende fazer no UFC?
ANDERSON SILVA - Tenho mais oito lutas no meu contrato. Desde que comecei a treinar e a lutar profissionalmente, nunca tive esse negócio de escolher adversário. O único atleta que gostaria de enfrentar é o Roy Jones Jr., pois é um desejo pessoal de lutar boxe com ele.
ESTADÃO - É óbvio que a pressão da família tem um peso. Quando você pensa em parar de lutar?
ANDERSON SILVA - Se eu conseguir fazer mais seis ou sete lutas, posso começar a pensar em me aposentar. Ainda tenho bastante garrafa para vender, sou um garoto.
ESTADÃO - Como você viu a reação de apoio dos brasileiros após sua lesão nos Estados Unidos?
ANDERSON SILVA - Todo mundo ficou meio espantado, não acreditou, porque foi uma cena chocante. Depois vi o vídeo algumas vezes e falei: "Caramba". Foi uma coisa muito ruim para o esporte, no meu ponto de vista. Só que eu percebi a comoção de todo mundo porque estava lá representando o Brasil. A mesma coisa aconteceu com o Ronaldo e com atletas da ginástica. Foi como me senti quando o Ayrton Senna morreu. Mas estou bem, estou voltando, e no ano que vem com certeza vou lutar. Esse ano vou aproveitar essas férias forçadas para cuidar de mim e da minha família, além de fazer meus projetos fora da luta.
ESTADÃO - Como você bem disse, o Ronaldo já passou por lesões graves. O que ele tem falado para você?
ANDERSON SILVA - Eu tive oportunidade de conversar com ele logo depois do ocorrido e ele falou para eu ter calma, para não me preocupar com nada, para pensar apenas em mim. Ele passou por algo semelhante e disse que tudo iria passar. Falou para eu pegar meu tempo e colocar as coisas no lugar. Foi o que fiz.
ESTADÃO - Você tem conversado com o Dana White sobre futuro?
ANDERSON SILVA - A última conversa que tive com ele foi sobre minha luta de boxe. Mas não foi legal. Ele tem os motivos dele para não querer isso, pois para o negócio dele não é algo muito agradável, mas é um desejo pessoal que tenho e ficou no ar.
ESTADÃO - Como tem sido sua rotina?
ANDERSON SILVA - Fisioterapia, casa, treino e por aí vai. Também tenho feito aulas de interpretação em Los Angeles e estou cuidando da minha família e dos filhos.
ESTADÃO - Você tem se mostrado encantado com o trabalho de ator. Como tem sido isso?
ANDERSON SILVA - Estou melhorando. É um novo caminho que estou seguindo e estou me preparando. Até acabei deixando de lado algumas oportunidades justamente por não estar preparado. Tem alguns roteiros que estão me mandando, assinei com a terceira maior agência de cinema de Los Angeles e estou indo devagar. Assim, quando tiver oportunidade, poderei fazer bem feito.
Estadão