domingo, 9 de outubro de 2011

ENTREVISTA COM ROBERTO MEDINA, O IDEALIZADOR DO ROCK IN RIO.

Não convidem para o mesmo palco Roberto Medina e Elton John ou Axl Rose. Basta ouvir o nome dos dois astros que se exibiram no Rock in Rio para o poderoso chefão do maior evento de música do planeta fazer cara feia. "Um (Axl) chegou muito atrasado e não respeitou o público. O outro fez um show para lá de burocrático". Cinco dias depois de o último acorde de guitarra soar na Cidade do Rock, Medina recebeu o EXTRA em seu escritório, na Barra, para fazer um balanço do evento e antecipar que Iron Maiden e Bruce Springsteen estão praticamente garantidos em 2013.

Qual a melhor surpresa e a grande decepção do festival?

O melhor foi o Coldplay. Eles fizeram o show da vida deles. Mas a grande revelação para mim foi Stevie Wonder, que pegou a garotada. Pegar a mim é óbvio, mas pegar a garotada... Pegou, arrebentou! Katy Perry foi sensacional, mas já esperava isso dela. A grande decepção foi Elton John, sem dúvida. Ele fez esse mesmo show em Portugal agora, foi uma loucura! Ele se entregou, cantou por quase três horas, levantou... E no Rio ele estava profissional, correto. Mas, às vezes, você está mal de cabeça, não está bem naquele dia.

E Axl Rose? O que aconteceu com ele desta vez?

Achei uma falta de compromisso, de respeito com o público, o imenso atraso dele (foram mais de duas horas).

Então os dois estão riscados do seu caderninho?

Ah, sim. E Axl tinha aquela coisa de ligação com o Rock in Rio, mas foi lamentável.

Mais alguém barrado no baile?

Jay-Z. Cancelou a vinda e não deu satisfação.

E as bandas nacionais?

Skank, Paralamas e Capital Inicial fizeram apresentações de nível internacional.

Qual a sua lista dos sonhos para 2013?

Já estamos trabalhando em pesquisas, e posso adiantar que Iron Maiden e Bruce Springsteen, que sempre lota os estádios, estão bem adiantados. Bruce é um cara que eu acho que vai fazer um estrago no Brasil, que é uma banda importantíssima na Europa, lota qualquer coisa de cem mil lugares. Ele veio há 30 anos para São Paulo, mas nunca mais voltou.

A questão de cachê interfere na escalação?

Interfere. Não adianta, você tem que fazer um mix. Eu, quando vou negociar, já sei mais ou menos o cachê que eu vou tatear.

Neste caso, são os (head) lines. E os brasileiros?

Você tem três níveis de diferença de preço. Os brasileiros estão todos no mesmo bolo, na terceira faixa.

Quem você lamenta ter ficado de fora este ano?

Todos de frente que eu podia trazer, eu trouxe. Falaram em Lady Gaga, mas ela estava parada. O mesmo de Rolling Stones e Madonna. O U2 não se apresenta em festivais.

O que fazer para melhorar a questão da comida? No Bob’s, atendentes abandonaram o posto para curtir os shows, causando megafilas.

Você tem que pagar o valor adequado. Por isso, não aconteceu nas outras lojas, aconteceu no Bob’s. Estavam pagando baixo. Se você paga o valor adequado, pode estimular o funcionário, até dar um dia, comprar um bilhete. No caso dos voluntários, por exemplo, tinha um prêmio para os melhores, que iam assistir ao show do dia seguinte.

Roberto Medina curtiu os shows só da área VIP ou foi para o povão?

Fiquei encantado com a Rock Street, uma área comum. Fui lá todos os dias para comer batata frita.

E o senhor enfrentava as filas gigantes?

Claro! Sou o idealizador, tenho que dar o espelho.

Tem discurso para os que lhe pedem convites?

Os pidões mudaram de perfil. Em 2001, eles pediam bilhete; os de agora queriam comprar um bilhete. Então, como não tinha mais, meu drama era dizer que já tinha vendido tudo. Na Espanha, já é outro tipo de pidão. Eles pedem mesmo e eu digo: "Você me ofereceu comida de graça? Você vende comida, e eu vendo bilhete".

A bilheteria representa quanto do seu faturamento?

Mais ou menos 38%.

Imaginava que seria uma fatia de bolo maior que 38%. O restante é o quê?

Comunicação, parceiros de mídia. Agora, por exemplo, você tem receita de camisetas (foram 43 mil vendidas dentro da Cidade do Rock).

Sete dias de festival não é muito pouco (risos)?

Eram seis, virou sete. Não dá pra saúde, cara! É muito pesado. Pesado pra caramba! Dormi três horas por dia durante esses dias de festival.

Em quanto está avaliado o Rock in Rio hoje, a marca?

Uns 150 milhões de euros.

Comparativamente ao primeiro Rock in Rio, qual foi o crescimento disso?

No primeiro Rock in Rio, a marca não tinha valor. Era só um sonho, uma aventura. Acho que a marca só começou a ganhar valor a partir de 1991. Marca existe quando se repete um projeto.

De que edição você menos gostou?

Não gostei do festival confinado ao Maracanã. Não é o espírito do Rock in Rio, eu jamais faria novamente o Rock in Rio num estádio de futebol, por maior que fosse... O Rock in Rio é natureza, é você andar de um lado para o outro, encontrar amigos. Não é só ver um show.

Há negociação para levar o evento a outros países?

Sim, temos conversado com Rússia, México, Inglaterra e Estados Unidos.

Você assistiu à entrevista de Christiane Torloni? O que achou do bordão "Hoje é dia de rock, bebê!"?

A pessoa está com intimidade de poder estar bebendo um pouco mais e aí tem que dar entrevista, aí a gente escorrega. Mas foi engraçado. É natural que a pessoa tenha um pilequinho num negócio desses.
Extra

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