Enquanto o governo federal compra briga com a classe médica --devido ao plano de flexibilizar a contratação de estrangeiros--, cidades gaúchas na fronteira com o Uruguai enfrentam a falta de profissionais de saúde contratando médicos do país vizinho sem diploma revalidado.
Municípios e hospitais ganharam na Justiça o direito de contar com médicos uruguaios e dependem deles para formar equipes mínimas.
Em Quaraí, cidade de 23 mil habitantes, a maioria dos 20 médicos do Hospital de Caridade, o único do município, é do país vizinho.
O hospital tem há anos vagas abertas para diversas especialidades.
Com salários na faixa dos R$ 7.000, não consegue atrair profissionais de grandes centros do Rio Grande do Sul.
Assim como Quaraí, outras quatro cidades da fronteira que apelaram para a alternativa e tiveram aval da Justiça são pouco populosas, sem faculdades de medicina por perto e com orçamento limitado.
Um perfil muito próximo dos municípios que o governo pretende beneficiar com a contratação de médicos estrangeiros --projeto que virou bandeira da presidente Dilma Rousseff na saúde após as manifestações de junho.
CONTRATEMPOS
A contratação dos uruguaios gera contratempos. Os gestores não conseguem pagar esses profissionais com repasses do Ministério da Saúde, já que eles não são reconhecidos.
O dinheiro sai do caixa único da prefeitura.
"Atrapalha demais [as finanças]. Poderia fazer obras, mas passa para a folha de pagamento", diz o prefeito Ricardo Gadret (PTB).
Outro problema é que farmácias não aceitam receitas prescritas pelos uruguaios.
"Quando é preciso um remédio que não está na Secretaria da Saúde, pedimos que algum médico brasileiro valide a receita", diz o médico uruguaio Santiago de León, 27, que começou a fazer plantões em Quaraí neste ano.
Clínico geral formado em Montevidéu em 2012, ele diz que revalidar o diploma não é sua prioridade, devido à demora e porque já estuda para provas de residência médica.
Para o médico, além da remuneração no nível da oferecida em seu país, o interesse dos uruguaios pelo trabalho na fronteira também se explica pela demografia. O Uruguai não tem grandes municípios além de Montevidéu.
Folha
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